sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

DIÁRIO DA CHAPADA DIAMANTINA

DIA 18/01/2009 – A IDA

Numa ensolarada manhã de domingo, nós, os onze integrantes da expedição “Campinenses Ciclistas na Chapada Diamantina 2009”, reunimo-nos para a partida. Os integrantes eram: Aluísio, Beto, Brilhante Filho, Bruno, Célio, Fábio, Gabriel, Gercino, João, Maurício e Maycon. Célio era o condutor da van que nos transportou, tendo atrelado a ela um reboque, onde seguiram nossas bicicletas. O trajeto total foi de quase 1.400 km, seguindo por Garanhuns (PE), Paulo Afonso e Feira de Santana (BA), até a chegada em Lençóis, já dentro do Parque Nacional da Chapada Diamantina, considerada a principal porta de entrada do paraíso ecológico. Chegamos a Lençóis nas primeiras horas da madrugada da segunda-feira (dia 19), e seguimos diretamente para a Pousada Alto do Cajueiro, onde fomos recebidos pelos nossos anfitriões simpaticíssimos, Ivone e Ronaldo. Após as primeiras boas-vindas e organização de quartos e bagagens, um merecido banho e cama, para repor as energias!!

DIA 19/01/2009 – TREKKING E PEDAL EM LENÇÓIS

Após um delicioso café da manhã (com frutas, pães caseiros, geléias e tapioca), servido numa varanda circundada pela exuberância da mata preservada, seguimos para um trekking urbano e rural em Lençóis. Já nas primeiras ruas, a cidade emociona pelo estilo francamente colonial, preservado em sua maior parte, com ruas calçadas por pedras, jardins e detalhes arquitetônicos típicos. No centro da cidade histórica, domina o mercado central, que lembra uma construção do império romano (guardada as proporções) e um casario colonial do século XIX, que faz reviver os áureos tempos do garimpo, em épocas do Império Brasileiro. Hoje, as casas são adaptadas para comércio e serviço, com inúmeros bares, restaurantes, bancos, farmácias e mercados. O trekking deve ser feito necessariamente com um calçado confortável (evite sandálias), pois quase todas as ruas são de pedras irregulares (a cidade é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Saindo de Lençóis, caminhamos até os chamados “caldeirões”, que são escavações numa parte rochosa do rio Lençóis, formando verdadeiras piscinas naturais, onde corre uma água escura (limpíssima, a cor é resultado da decomposição de material orgânico) e fresca, contrastando com o sol fortíssimo da Chapada. Um banho é inevitável, assim como o extremo cuidado para evitar quedas. Desta parte, avista-se a cidade de Lençóis, rio abaixo. Seguindo a trilha, caminhamos até o “salão das areias”, uma fascinante formação de rochas superpostas e pequenas cavernas, onde existe uma grande quantidade de areias multicoloridas, de onde os artesãos retiram matéria prima para a confecção de seu artesanato (pinturas em garrafinhas, formadas pelo contraste de cores das areias). O jogo de cores, sombras e luzes é fascinante, mas deve-se tomar cuidado com as rochas e pedras soltas. A seguir, a trilha nos levou até uma linda cachoeira, onde foi irresistível outro banho e parada para as fotos. Após essa visita, voltamos à cidade para uma rápida refeição e fomos para a pousada, onde pegamos as bicicletas para o primeiro pedal da temporada.

Após os ajustes, retiramos as bikes do bike-station da pousada, e seguimos, em companhia de Peter, nosso excelente guia suíço, para um pedal de cerca de 18 km. No caminho, algumas subidas íngremes, e uma estrada fascinante, cercada pela mata selvagem. Em certos trechos, as árvores cobriam toda a estrada, numa paisagem que lembrava caminhos europeus. Um trecho em sua maioria plano, possibilitando um pedal mais rápido. Ao final, uma descida íngreme, com pedras e valas, onde foi necessário levar a bike no ombro, até uma belíssima cachoeira, com um escorregador natural, que faz reviver em cada um a criança longínqua e arteira! Após um delicioso banho e várias brincadeiras, bikes nos ombros, subimos para a estrada e retornamos para Lençóis, através da mesma trilha. À noite, passeio pela bela cidade, ainda mais fascinante com a iluminação noturna, terminando com um delicioso jantar, num restaurante da praça principal. Ao final, só restava energia para uma conversa calma na varanda da pousada, e o merecido descanso, para os desafios do próximo dia.


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DIA 20/01/2009 – PEDAL DE LENÇÓIS ATÉ IGATU

Após mais um delicioso café da manhã na pousada Alto do Cajueiro, iniciamos os preparativos para o início da grande aventura de circundar o Parque Nacional da Chapada Diamantina de bicicleta. Ajustes e lubrificações feitos, roupas e ítens de segurança ajustados, saímos da pousada, rumo à trilha. Saindo de Lençóis, inciamos um dos mais belos trechos do programa. Um estradão praticamente plano, em meio à vegetação intocada. Inacreditável, lembrava trilhas europeias! Em alguns pontos, era difícil enxergar o céu, pois as árvores fazem a cobertura completa. No caminho, várias paradas para atravessar rios e riachos. Uma experiência à parte, pois, muitas vezes, era necessário carregar as bicicletas nos ombros!! A visão dos rios, com suas águas escuras e cachoeiras, é indescritível. Sempre havia pausas para fotos, e, eventualmente, para a gente se refrescar nas águas frescas. Perto do meio-deia, paramos numa fazenda para o almoço. Uma deliciosa comida baiana, onde pudemos degustar cactos refogado, frango caipira, feijão caseiro, dentre outras delícias, após termos tomado um inesquecível inesquecível banho de cachoeira. Aliás, essa cachoeira é simplesmente mágica, pelo desnível que ela percorre (veja as fotos). Convite para a paz e para a reflexão. A seguir, voltamos a pedalar, até a cidade de Andaraí, a segunda principal cidade da Chapada Diamantina, que se destaca pela arquitetura colonial de seus casarões, que abrigavam os barões do diamante na fase de esplendor, além das belezas naturais em sua volta. É tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Seu nome vem das palavras indígenas andira-y (rio de morcego, em tupi-guarani), numa referência aos habitantes das grutas nos paredões de pedra em volta dos rios da região. Lá, uma breve pausa para um sorvete (na sorveteria Apolo), e seguimos para o trecho mais desafiador do dia: uma subida de quase 8 km, numa estradinha íngreme, feita de pedras (construída por escravos). O resultado: um terrno extremamente irregular, os pneus prendiam o tempo inteiro, a bicicleta brigava contra a gravidade, tentando nos jogar para trás... sem falar do sol inclemente e do esforço gigantesco para subir o paredão da Chapada. Após esse trecho-sacrifício, e a felicidade da superação dos próprios limites individuais, seguimos até o disctrito de Igatu, conhecida como a Machu Picchu baiana. Acredita-se que Igatu (ou Xique-xique, como era conhecida) foi descoberta por volta de 1840, por garimpeiros, e eles é que fizeram as obras em pedra que você pode encontrar por lá. A vila, que já teve por volta de 15 mil habitantes, conta hoje com menos de 500 e é uma verdadeira cidade de pedra. Hoje não há farmácias, o hospital mais próximo fica em Andaraí, à 12KmFoi um século de exploração e riqueza e a decadência no século 20, quando a maioria das casas foi abandonada. Os próprios garimpeiros chegaram a destruir ruas inteiras em busca dos últimos diamantes o que deu início aos cerca de 7Km de ruínas que hoje podem ser visitadas. Chagando a Igatu, recebemos o presente de ver uma festa popular, que pode ser conferida nas fotos. Fomos direto para a pousada, para banho, descanso, jantar, depois circularmos à noite na cidade, e retornamos para dormir. O dia seguinte prometia...

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DIA 21/01/2009 – VISITA ÀS RUÍNAS DE IGATU/ PEDAL DE IGATU ATÉ GUINÉ

A visita a estas ruínas (no início da uma manhã ensolarada do dia 21) foi um dos mais emocionantes momentos do circuito. Andando nas ruas desertas, açoitadas pelo vento da Chapada, contemplando-se as ruínas de casas, é inevitável pensar na vida que floresceu ali, nos tantos sofrimentos dos escravos, no falso poder trazido pelos diamantes, na cobiça humana, e, o que é mais tocante, no final de tudo isso: as ruínas! Quanto sofrimento, quanto suor, quantas lágrimas se derramaram sobre aquelas pedras seculares, e hoje, só restos. Um momento para reflexão, no universo multicultural da Chapada Diamantina. Há também um museu, onde é possível observar objetos da época, como máquina de datilografia, pesos para prender escravos e utensílios para garimpo.

Após a visita, de volta à pousada para pegar as bicicletas, e caímos novamente no caminho. Saindo de Igatu, seguimos por uma estrada muito bonita, com subidas e descidas, culminando com um trecho grande de asfalto. Apesar dos caminhões e carros, o trecho é muito bonito, tem paisagens impressionantes, e leva à cidade de Mucugê, onde paramos para o almoço. Após a refeição, uma visita impressionante, ao cemitério da cidade!!! não como mortos, felizmente, mas como mortos-de-curiosidade, por conhecer um cemitério bizantino. Trata-se da influência da arte bizantina, que remonta ao tempo medievais, quando o império romano teve sua capital transferida para Bizâncio, depois chamada de Constantinopla, onde teve início uma curiosa tendência artística, especialmente na arquitetura, chamada bizantina. Na arquitetura, há uma tendência à expressão de abóbadas e arcos, como grandes catedrais góticas. Tudo isso é observável no cemitério de Mugugê. Há réplicas em miniaturas de catedrais góticas, e as formas de arcos são lindas. O complexo fica ao pé de uma serra. A visão de longe já impressiona. A visita é indispensável. De lá, seguimos por mais um trecho pequeno de asfalto, até o início do estradão que nos levaria à cidade de Guiné. Esse trecho acompanha toda a aba oeste do paredão da Chapada. À nossa direita, o paredão, com suas formas impressionantes, que se elevavam a mais de 300 metros de altura, com seu contraste de cores, luzes e sombras. À esquerda, a planície peri-Chapada, com sua vegetação mais agreste, mas nem por isto menos exuberante. O trecho é praticamente plano, passando por fazendas, plantações e raros rios, até Guiné, onde ficamos hospedados numa pousada simples, sobre um pequeno restaurante, para o pernoite.

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DIA 22/01/2009 - PEDAL DE GUINÉ AO VALE DO CAPÃO

Acoordando logo cedo, tomamos um rápido café da manhã e seguimos para mais um trecho de pedal. Inicialmente, várias subidas, para "esquentar as pernas", seguidas por um "down-hill" que desafiava os mais afoitos, tendo o paredão da Chapada à nossa direita e seguindo o curso de um rio, cujo sussurrar nos acompanhava mansamente durante o trajeto. Nesse dia, a chuva apareceu, mansamente, apenas para abaixar a poeira, bem como um friozinho agradável, que aliviava o esforço do pedal. Após a primeira parte, uma rápida parada para um lanche, e seguimos até um novo desafio, uma subida muito inclinada, embora menos extensa, que levava até uma belíssima cachoeira, onde o convite a um banho foi inevitável, como sempre... a seguir, pedalamos até o vale do Capão, uma das mais lindas regiões da Chapada Diamantina. A vegetação é exuberante, árvores enormes, seculares, muitas frutíferas, dominando uma baixada, literalmente aos pés do paredão da Chapada. A cidade é pequena, mas aconchegante. Tem, talvez, a população mais insólita da região. São os famosos "bichos-grilos", homens e mulheres de comportamentos e estilos de vida alternativos, hippies, em meio a muita festa, e, lembrando que estamos no nordeste do Brasil, forró num "quarto de reboco", quente e escuro, do jeito que 'o diabo gosta"... no Capão, ficamos numa das mais belas pousadas que conheci. Chegamos lá ao por-do-sol. Os tons de cores e os efeitos de luzes e sombras sobre o paredão são indescritíveis, à medida em que o sol vai se escondendo. O jardim da pousada é um capítulo à parte... gramado bem cuidado,árvores e plantas, em meio a lagos, uma piscina natural, a partir de uma pequena represa em um rio que corta a propriedade... simplesmente perfeito. Jantamos e nos entregamos a uma morna conversa na varanda, até que o sono nos dominou...

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DIA 23/01/2009 - TREKKING À CACHOEIRA DA FUMAÇA

Dizem que ir à Chapada Diamantina sem conhecer a Cachoeira da Fumaça é como ir a Roma e não ver o papa... concordo plenamente! Saímos da pousada pela manhã, e fomos, de carro, até o início da trilha de cerca de 2 horas, que leva à cachoeira. Logo no início, cerca de 3 km de uma subida muito íngreme, que testa a forma física, mas revela, desde o início, paisagens deslumbrantes. À medida em que subimos o paredão da Chapada, vislumbramos grande parte dos trechos por onde pedalamos, sob orientação precisa do nosso simpaticíssimo guia suíço, Peter: região de Guiné, todo o Vale do Capão e trechos ainda a percorrer no dia seguinte. Após a subida inicial, mais uma caminhada, em terreno plano, onde observa-se uma vegetação típica de altitude, mais rasteira e rala. Muitas formações rochosas e alguns animais (lagartos e mocós). Pouco antes da cachoeira, o rio que a forma faz uma represa natural, e suas águas avermelhadas convidam a um banho inesqucível. Aliás, o jogo de cores nesse trecho é indescritível. A seguir, a chegada à Cachoeira da Fumaça. O lugar é superlativo. Abruptamente, abre-se um vale gigantesco, com cerca de 400 metros de profundidade, e uma largura de vários quilômetros. O rio, até então manso, despenca no vazio, formando, a partir da metade do trajeto, uma nuvem, graças à altura e à força do vento que empurra a água para cima, numa briga milenar das forças da natureza, que produz um dos mais belos espetáculos da Chapada. O resultado é uma nuvem de fumaça, na verdade vapor d´água, que forma repetidos arco-iris, e justifica o nome da cachoeira. Para vislumbrar perfeitamente, há que se deitar numa pedra, nos limites do precipício. Como a descida é absolutamente abrupta, qualquer pé-de-vento ou vertigem pode ser fatal... lindo, mas absurdamente perigoso. Nesse momento, a gente se sente muito, muito pequeno e descartável, e a presença de Deus se faz exuberante, sob a forma de uma natureza que resiste aos séculos, e demonstra ser sempre muito mais perene e grandiosa que nossos pequenos e torpes cérebros, tão auto-centrados e egocêntricos... como se vê, um lugar para a contemplação do belo, e, acima de tudo, para a meditação. Voltamos da cachoeiras tomados por uma emoção diferente, grandiosa e inquietante. Uma passada na pousada, onde cantamos os parabéns para Aluisio (que aniversário inesquecível ele teve), e à noite, após um papo ao redor da fogueira, uma pizza diferente em Capão (na pizzaria de um suíço, amigo de Peter), deliciosa, ao estilo realmente europeu. Para alguns, um final de noite meio mundano, com música e dança, para equilibrar um pouco as emoções divinais do dia! Depois, dormir, torcendo para sonhar com o dia...

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