Hoje fiz um pedal sozinho (tentei arrumar parceiros, juro!!).
Fazendo um trecho já conhecido, iniciando pelo Cardoso e seguindo até a Maria da Luz, incluindo o "açude escondido", resolvi tirar "fotografias da paz". Explico: para mim, nada me proporciona maior sensação de paz e de harmonia com o planeta do que visualizar a natureza, de preferência sobre minha bicicleta.
Fiz questão de compartilhar com vocês.
Acredito que, no dia-a-dia corrido das trilhas, quase nunca temos tempo ou disposição para curtir verdadeiramente os detalhes da paisagem. Muito menos, de fotografá-los. Sempre que paro para fotografar alguma coisa, sempre tem alguém para dizer "bora, Fábio!!! chega de fotografia!!! já temos fotos demais!!".
Hoje, o clima era outro. Fui para curtir com calma.
Aproveito para lembrar que a visualização dos detalhes da paisagem é a higiene mental necessária e complementar à atividade física exercida durante o ciclismo. Não devemos negligenciar a higiene mental que a natureza nos proporciona, sem cobrar nada por isso.
Ótimo final de semana!
Fábio.
FOTOS E FATOS
Em alguns trechos, a trilha se confunde com um córrego. Ou seria o próprio córrego, a trilha? navega-se simbolicamente pela água que corre suavemente pelo percurso de um ciclista?
Cristo Redentor... não o carioca, mas o da Maria da Luz, fazenda na região rural de Campina Grande. A religiosidade brasileira, expressa nos mais típicos símbolos do catolicismo. A busca eterna pela religião, como forma de "religar-se" à essência do ser humano. Haveria uma religião cujos ícones de adoração fossem os elementos da mãe-matureza???
No meu imaginário, penso numa bandeira brasileira desenhada assim. As cores estão quase todas (faltou só um pouco de azul, mas bem pode ser dispensado). Os elementos simbolizam a riqueza máxima de nossa terra: a exuberância da natureza.
Sei que é surreal, mas considero esse objeto como uma amiga, uma grande amiga, uma parceira, responsável por me proporcionar alguns dos melhores momentos de minha existência, nos últimos anos. Sei que parece surreal mantê-la limpa, tratá-la quase como se fosse animada... mas excesso de realismo serve para quê??
Em momentos como esse, consigo fazer tamanha introjeção, que chega a reformular conceitos, subjetividades. Na impossibilidade de uma terapia (por questões de ordem prática, não por falta de desejo), faço da natureza a minha grande psicoterapeuta. Faço de mim mesmo o amigo (parafraseando o compositor Taiguara). Faço de minha bicicleta a ponte para um lugar mágico, para o qual não há descrição verbal possível.
Minha amiga. Minha companheira. Poucos entendem o sentido, lamentavelmente...
Ipê roxo florido. Marca registrada do início da primavera em nossa região serrana. Presente para os olhos e para os corações.
Esse tronco parece estar em chamas, graças a uma combinação de cores, sobras e luzes. Mais um detalhe que fugiria facilmente aos olhos, não fosse um dia selecionado para a observação do micro.
No final do pedal, já com a noite invadindo o dia com seu manto escuro, lembrei de que estava sem farol. Para quem me conhece bem, um fato normal, cotidiano... para mim, mais um desafio: completar o pedal quase no escuro. Tateando o terreno, como quem acaricia o ser amado. Fim de um dia banal, e, paradoxalmente, inesquecível.