quarta-feira, 19 de outubro de 2011

O PODER DO PERDÃO

Eu e Bernardo, na Europa.


Retornando de uma recente viagem à Europa, sobre a qual comentarei depois, eu vinha conversando com meu amigo-irmão Bernardo sobre a importância do perdão na vida das pessoas.

Impressionante como pronunciar uma palavra tão curta pode ser tão difícil para algumas pessoas. 

O fato é que tendemos a magoar exatamente as pessoas a quem mais amamos. Não é um paradoxo. Por amarmos essas pessoas, conhecemo-las mais a fundo, sabemos de suas fraquezas, percebemos suas inseguranças. Muitas vezes, elas também nos sabem assim, e o resultado pode ser o surgimento de pequenas e transitórias tempestades temperamentais, que culminam em palavras ou gestos agressivos, de difícil digestão.

É nesses momentos que a força do perdão se expõe, de forma mais marcante. Pedir perdão não significa apenas estar arrependido.

Simbolicamente, o perdão traz, implicitamente, o ato de se assumir frágil, falível, imperfeito. Traz a humildade, a certeza de se saber humanamente incompleto. O ato de pedir perdão traz, em seu bojo, boa parte do perfil psicológico de uma pessoa. 

Os que não sabem (ou não querem) pedir perdão podem, temporariamente, julgarem-se acima do bem e do mal, superiores, seguros em sua pseudo-onisciência. 

Teoricamente, apenas os que nunca erram, nunca magoam ou nunca são injustos jamais precisam pedir perdão. Mas aí, eu lhe pergunto, meu amigo leitor: existe tal ser humano sobre a face desse planeta? existe a perfeição? existe quem nunca tenha tido de pedir perdão?

O ato de pedir perdão aproxima. Porque expõe a nossa alma, a nossa fragilidade. Oferece ao que foi magoado a chance de compreender profundamente as causas do destempero temporário. 

Pedir perdão é o principal ato de manutenção e azeitamento das relações humanas.

Só se pede perdão a quem se ama verdadeiramente. Falo de um amor universal, sobre o qual poucos compreendem. Falo de amor anos-luz acima da conotação sexual, das representações tradicionais. Falo de um amor entre pessoas, simplesmente.

As pessoas que nos magoam deveriam sempre pedir perdão. Pois, não o fazendo, assumem que estavam sempre certas. Posicionam-se superiormente, numa arrogante postura de pseudo-segurança. Afastam-se de nós, afinal.

Amizades e relacionamentos em geral podem ser abalados (ou destruídos) pela ausência do ato de pedir perdão. Não pela formalidade do ato, em si, mas pelo que tal arrogância expõe, acerca de quem não se aceita falível, humanamente incompleto.

Hoje, vejo que há profundas e, talvez, intransponíveis barreiras entre eu e a maioria das pessoas. Não porque eu seja melhor do que elas... muito pelo contrário!! trago uma sina de aprofundar os sentimentos, de ter uma sensibilidade muito exposta, de me ferir facilmente. Uma mistura de genética com fatos da vida, que foram criando pequenas cicatrizes na pele-espírito, ao longo dos anos.

Nunca consegui compreender totalmente as pessoas... menos ainda, fazer-me compreender por elas. Já desisti dessa empreitada! 

Por isso tudo, caro leitor, tenho o pedido do perdão sempre pronto, na ponta da língua. Um pedido sincero e humano, não formal.


Porque tento compreender essas diferenças. Porque sei que, muitas vezes, posso ferir exatamente aos que mais amo. Porque me sei frágil, incompleto, imperfeito.

Peço perdão, para que não se forme uma ideia falsa de arrogância, de que sou dono da verdade, o que pode afastar as pessoas e comprometer as relações.

Não durma sem pedir ou sem dar seu perdão. Não é um conceito religioso (mas bem poderia ser). Trata-se de uma forma real, concreta, honesta e funcional de manter as relações humanas. 


Simplesmente.