sexta-feira, 4 de novembro de 2011

SONHO DE PEDRO - POEMA


Pedro anda cansado. Cansado da vida, cansado da lida, cansado dos lírios, da lírica, do bélico, do belo e das belas. Pedro anda cabisbaixo, ensimesmado, constrito, introjetado. Pedro anda lívido, perplexo, domado, insano. Canta e ri pouco, lê ainda menos, cresce quase nada. Fixa mal, não dorme, beber não mais, viajar, nunca. Pedro trava uma luta que começa sempre ao cantar do galo e termina ao canto do beija-flor que pousa em sua janela. Sabe-se sempre perdedor, embora, inexplicavelmente, sinta-se impulsionado a guerrear contra um invisível que habita suas entranhas, confunde-se com sua própria existência. Pedro quer se entregar ao desdém, ao limbo, aos contos e às contas. Pedro já não pretende arquitetar, planejar ou extrapolar. Quer simplesmente deitar e descansar, como fosse o único ato humanamente plausível. Pedro não quer ver nada, ninguém. Pedro não gosta mais, não gasta mais, não grita mais. Pedro já se viu discípulo, professor, pedreiro, médico e operário. Já se soube cínico, sarcástico, hipócrita, parasita, tirano e marginal. Já se encontrou nos píncaros da euforia, dela bruscamente mergulhando no vazio ou na obscuridade das lamas mais pútridas de sua alma. Pedro é, hoje, um espectro de si próprio. Nem mais sabe das cores de seus sonhos, se é que eles já existiram. Pedro sequer deseja a morte, pois ela também lhe parece um fardo. Nada mais há em Pedro. Nada mais se espere dele.

Um comentário:

Anônimo disse...

Inúmeras vezes deparo-me com essas sensações de desespero, inquietude, perplexidade ante os obstáculos que a vida impõe! Em verdade, se formos parar para pensar, viver ainda é um agridoce mistério, ora fascinante, ora um fardo pesado, dorido. O ser humano é um somatório de contadições, dualidades e proezas! Há momentos em que me vejo assim como o "Pedro", derrotada, vencida, sem forças para reagir à maldade, insensibilidade, às vicissitudes da existência!


Sandra Medeiros