sábado, 20 de novembro de 2010

PELOS SANTOS, BEIJAM-SE OS ALTARES.





Minha mãe não é apenas uma das melhores pessoas deste planeta (quem conhece, sabe disto). É também de uma inteligência rara, sofisticada, que tem me trazido luz em torrentes, ao longo de todos esses anos de uma convivência única, que compõe o lado mais importante do que chamo de "sentido de vida". Em várias de nossas conversas, ela já pronunciou essa frase, que ficou encravada em mim, não só pelo sentido, mas também pela beleza da construção semântica e morfológica. 
"Pelos santos, beijam-se os altares".
Diariamente, a brutalidade da vida nos expõe aos limites da tolerância humana. Nas convivências familiares, nos arranjos e desarranjos profissionais, na batalha pelo pão de cada dia, na aceitação passiva da sujeira dos políticos corruptos, na capacidade infinita que o ser humano tem de surpreender, geralmente no mau sentido.
Diariamente, há momentos em que eu gostaria de estar no alto de uma grande montanha, acompanhado apenas por minha bicicleta, meu piano, uns livros, minha família (alguns membros, eles se sabem) e meus melhores amigos. Há momentos em que eu desejo não ter de exercer a complicadíssima e desgastante arte de "conviver". Mas o monstro biológico que vive dentro de cada um de nós é intolerante, ávido, cruel, determinista, ditador. Na sua ânsia de replicabilidade, urge e torna-se imperiosa a convivência em sociedade. Isso implica em renúncias constantes, em ocultação de nossas mais profundas convicções, tudo em nome de preencher nosso torpe papel social, do qual tanto se espera.
Se conseguíssemos filtrar a gigantesca carga emocional que se acumula no processo de convivência, para que, no final do funil, brotassem apenas micropartículas de momentos felizes, talvez esse lixo tóxico fosse suficiente para criar todo um "planeta-lixo", composto por decepções, lágrimas, desespero, tudo metaforicamente amalgamado numa matéria escura e fétida. Tal planeta-lixo seria absolutamente inútil, e até mesmo prejudicial para a replicação genética que impele nossa existência. Por isso, como sempre de forma sábia, nosso cérebro se encarrega de encarcerá-lo sob disfarces, enterrando-o em profundos porões. Vez por outra, os gases fétidos do planeta-lixo conseguem romper o concreto, e afloram, também disfarçados, sob forma de transtornos comportamentais, desequilíbrios emocionais ou doenças físicas, os quais são adequadamente tratados pela "moderna" medicina, cúmplice do processo de encarceramento emocional crônico, do qual padecemos. Passiva e criminosamente, a sociedade é conivente, investe sua sabedoria e seus lucros financeiros na construção de métodos artificiais de diversão e nos antidepressivos, que vendem como banana. Com este procedimento, fecha-se o ciclo, e o planeta-lixo segue indelével, como convém. E nós continuamos na sociedade, calados, ocultos, surdos aos nossos próprios gritos, impassíveis aos nossos reais anseios, mas, ainda assim, sorrindo, beijando, fazendo mais filhos, preenchendo nossos papéis cotidianos, exatamente como se tivéssemos escolha.
Continuamos beijando os altares, joelhos em chagas, vestes em trapos, coração dilacerado, pelos santos que nos moldaram, construíram nossas normas e seguem numa desabalada corrida, rumo ao nada.

sábado, 6 de novembro de 2010

PRECONCEITO CONTRA IRMÃOS - A REALIDADE DO BRASIL



Mais uma vez, o preconceito contra os nordestinos virou notícia nacional, após a eleição de Dilma Roussef para a presidência do Brasil. Apesar de se saber que Dilma venceria as eleições sem a contagem dos votos nordestinos (os números confirmam isso), o fato de a candidata ter obtido grande maioria na região nordeste foi o pretexto para surgir uma nova onda de manifestações racistas e preconceituosas através da mídia eletrônica, dos blogs e das redes sociais.
O preconceito não é um fato novo na humanidade. Desde que o homem começou a se organizar em sociedade, o preconceito tem sido uma constante. Numa visão mais profunda, o preconceito é um sentimento tipicamente animal (não apenas humano), que visa a eliminar ou neutralizar as minorias, para que as elites majoritárias possam reinar, espalhando suas características biológicas através da replicação genética. A rivalidade que existe entre os felinos de diferentes espécies, por exemplo, poderia ser vista como um "preconceito racial", assim como ocorre entre cães e gatos, gatos e ratos e outros clássicos inimigos do reino animal. Veja que esta rivalidade não implica necessariamente em "matar para comer", mas sim em eliminar um potencial rival, um ser "inferior" que possa "contaminar" o ecossistema com seus genes imperfeitos.
No caso da humanidade, que adquiriu a discutível capacidade de raciocinar, essa disputa ganhou um novo nome: preconceito. Existe preconceito contra todas as minorias da humanidade. Estas minorias, paradoxalmente, não são, necessariamente, menos numerosas. Exemplos: os ricos tem preconceito contra os pobres (os últimos, são maioria numérica, mas minoria em termos de expressão e voz). Os brasileiros ditos "brancos" (existem mesmo?) tem preconceito contra os pardos e negros, embora estes sejam a maioria numérica da população (ainda que, por um estigma histórico, representem menor poder econômico e tenham menor escolaridade). Os heterossexuais perseguem e estigmatizam os homossexuais, talvez porque estes últimos representem, ainda que em minoria numérica, uma postura sexual atípica, que diverge da dicotomia unir-procriar, constituindo uma nítida ameaça à tradicional estrutura rígida familiar, que forma o leito onde se instala e fortalece o núcleo de replicação genética. Ou seja: o preconceito é um sentimento que se volta de classes "dominantes" contra as "não-dominantes", muitas vezes não respeitando o parâmetro numérico.
Os norte-americanos tem preconceito contra o resto do mundo, pois acham que são a locomotiva econômica do planeta, e tem de "resolver" os problemas do mundo, inclusive a fome e a miséria da África, que eles ajudam a manter, graças a uma política externa brutal e desumana, realçada por guerras e invasões periódicas que articulam, com sua gigantesca máquina bélica. 
Os argentinos tem preconceito contra os brasileiros, a quem chamam de "macacos", por se acharem mais "europeus", mais sofisticados e socialmente superiores, embora nossa economia seja muito maior e nossa miscigenação seja uma característica genética interessantíssima, do ponto de vista evolutivo.
Chegamos aos "hermanos" brasileiros. Somos todos originados da mesma salada étnica, da qual não escolhemos fazer parte: índios, negros, europeus, asiáticos. O país foi colonizado a partir da Bahia. Uma parte subiu, outra desceu. A de baixo, por identificação com o clima mais ameno e com condições melhores de agricultura, constituiu o "Brasil de baixo", que se organizou, cresceu e se transformou num pedaço de quase-primeiro-mundo, agregando indústria, serviços, educação, comércio, saúde e todos os outros elementos necessários ao domínio socioeconômico. A de cima teve de se adaptar a condições de grande adversidade: no nordeste, o perverso ciclo de secas terríveis, que transformam o solo em desertos temporários, impossibilita ou dificulta a agricultura, fomenta a desnutrição e afasta os investimentos. A do norte teve de transformar rios em estradas, aprendeu a viver nas florestas, no isolamento, vítimas da distância, das mazelas tropicais, do abandono. O norte e o nordeste do Brasil foram vítimas das próprias adversidades, na gênese de um processo terrível que norteia as bases de replicação do gene egoísta: a guerra pela sobrevivência. 
Num país continental como o Brasil, a sobrevivência depende de adquirir e manter as melhores condições de investimento dos governos (sim, isso está no centro de tudo). Nos últimos cinco séculos, as regiões sul e sudeste foram privilegiadas nesse setor, e muitos moradores daquelas regiões se acostumaram a "aceitar" o norte e o nordeste como "fardos" necessários, até porque a constituição proíbe quaisquer atitudes separatistas. Recentemente, o nordeste começou a dar sinais de uma tímida virada, que pode, futuramente, ser a semente de um enorme crescimento. Sim, caro leitor, as condições adversas de clima não impossibilitam isso. Que sirvam de exemplo o estado da Califórinia (o mais rico dos Estados Unidos, com mais de 80% de seu território localizado em áreas desérticas) e o Estado de Israel (um gigante no Oriente Médio, encravado em área quase totalmente desértica). Todos sempre souberam que o real problema do nordeste não é a seca, e sim, o que se tem feito politicamente acerca desse fenômeno meteorológico. Uma política mesquinha de indiferença e exploração do sofrimento alheio, que se instituiu ao longo dos séculos, isso sim é a grande tragédia nordestina.
Alguns dos "hermanos" sulistas e sudestinos começam a se preocupar. Especialmente porque a região nordeste começa a se acordar, lentamente, como um grande urso que sai da hibernação. Começa a cobrar da pátria-mãe o seu quinhão de leite, um pouco de afago. Começa a entender que a solução dos seus problemas não está em "se Deus quiser", mas sim em "se os políticos quiserem". Fica mais fácil exigir dos políticos do que brigar com Deus... 
Sim, meu amigo leitor, a explosiva reação do gene egoísta se faz sentir, ainda que na ponta de um iceberg, por parte de alguns dos nossos irmãos da parte sul desse país. A mais simples ameaça à divisão do bolo socioeconômico dói como uma unha encravada. 
Infelizmente, ainda vai levar muito tempo, talvez décadas, para que eles entendam que os organismos maiores são mais fortes, mais resistentes. Se virmos o país inteiro como uma "máquina de sobrevivência" para os genes, ela fica infinitamente mais forte se todos os órgãos, inclusive os periféricos, forem corretamente irrigados, se o oxigênio for para todos os setores. 
Enquanto isso, teremos que amargar pensamentos ignorantes e torpes como o daquela estudante de direito, apoiada moralmente por muitos, não se iludam.
Como defesa, temos de exigir a correta punição de todos os que expressaram explicitamente esse preconceito. Numa democracia, todos podem e devem se expressar, mas, em contrapartida, todos são amplamente responsáveis pelo que dizem, especialmente no setor jurídico. Por isso, há que se pensar, antes de falar ou escrever.
Enquanto a justiça não se faz sobre o nordeste e o norte do Brasil, esquecidos durante séculos, que se faça justiça imediata sobre indivíduos que se desesperam diante da simples perspectiva de terem menos reais para gastarem nas boates da paulistana rua Augusta ou nas caríssimas lojas da metrópole, muitas vezes famosas pela sonegação de impostos. 
Faça-se a necessária e justa ressalva acerca dos inúmeros sulistas e sudestinos que amam o país, inclusive as regiões norte e nordeste, e acreditam - assim como os nordestinos - que somos partes indivisíveis desse grande organismo, que começa a crescer e aparecer para o mundo - o Brasil.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

O FANTASMA DA POLÍTICA - ORIGENS DO GRANDE MAL DA HUMANIDADE

Época de eleições, novamente. E lá vêm os políticos! com seus discursos vazios, seus gestos torpes, seu milimétrico e impecável aprendizado diário sobre como enganar melhor, como mentir sem ser descoberto, como ludibriar, como manipular. Os políticos e sua lição diária sobre quão sórdida pode ser a mente humana, na sua busca desesperada pela continuidade da linhagem gênica. 
Tenho pensado cada vez mais seriamente no que seria melhor para o Brasil, na impossibilidade de eliminar todos os políticos (não literalmente, não sou a favor do extermínio!) do cenário. Acredito que, como todos os funcionários públicos, eles deveriam ser submetidos a uma prova, após devidamente certificados num curso específico (que poderia se chamar "Licenciatura em Política"). Este curso traria disciplinas importantíssimas, como ética, moral, civismo, patriotismo, humanitarismo, além das áreas técnicas, como contabilidade, administração, liderança, saúde, educação, segurança pública, dentre os muitos outros conhecimentos necessários. Talvez, pudéssemos ter a formação de uma nova classe de políticos "formados", os quais só seriam empossados depois de prestar uma prova (dificílima) e se submeterem, só então, ao crivo popular, através da votação. 
Sim, sei que muitos políticos do nosso cenário são formados, professores, tem mestrado, e tal... mas não estou falando sobre esse tipo de formação! já que tanto tem faltado em termos de educação doméstica, há que se exigir uma formação paralela para essa gente. 
A chegada da idade traz a célebre frase "no meu tempo"... pois bem: no meu tempo de criança, minha mãe dava uma olhada (sim, apenas uma olhada), e a gente já recolhia o papel de bala que tivesse jogado na rua, ou sequer cogitava a possibilidade de furtar uma balinha do vendedor da esquina. Aprendíamos por osmose conceitos sobre respeito, ética, humanitarismo e decência. 
Nos dias atuais, em que a internet e a TV se encarregam verdadeiramente da educação das crianças, o que podemos esperar, em termos de formação de um caráter pleno, incorruptível?
Se a própria internet é um território plácido, permissivo, libertino? se a TV é movida por interesses comerciais e políticos, os quais, intrinsecamente, são vinculados à amoralidade e à inconsequência?
Dizem que "a mão que balança o berço é a mão que move o mundo"... nesse caso, onde está a mão que educava, que orientava que punia a criança, que hoje jaz oculta no peito sórdido dos políticos? onde estão os conceitos básicos de personalidade, que deveriam hoje nortear as suas escolhas, especialmente por estarem no comando de milhões de vidas?
Infelizmente, a política é como o vírus, o câncer e o preconceito. São males terríveis, com os quais teremos de conviver por muitas e muitas gerações. Como não acredito em vidas futuras ou num legado que se materialize em forma de espírito, ou congêneres, resta a perplexidade diária, as pequenas e grandes decepções com esses "monstros" humanos, que conseguem, por exemplo, desviar verbas de alimentação básica e da saúde para suas contas imundas, a fim de financiar banquetes, viagens e carros importados para sua "prole".
Repete-se o triste cotidiano da Roma antiga, do Império egípcio, do imperialismo norteamericano, dos loucos, megalômanos e egoístas shakes árabes.
Enquanto isso, na eterna filosofia do "pão e circo", contentem-se os brasileiros em continuar esmagados pela pressão da mídia, que empurra, garganta abaixo, "ídolos" como Faustão, Xuxa, Tiririca, Mulher-melancia e todo o funk carioca.

terça-feira, 20 de julho de 2010

NO CAMINHO HAVIA UM MURO.

Num desses pedais da vida, nós nos deparamos com um muro... é isso mesmo! um simples e prosaico muro, na região de Lagoa Seca. Resolvi tirar uma foto dele (abaixo), o que gerou críticas e gozações de todos os amigos do grupo de pedal! eles diziam: COMO É QUE SE PODE TIRAR UMA FOTO DE UM MURO????
Bom, o que eles não podiam prever na hora é que o muro estava sob a ação de dois fatores especiais: a ação do tempo, que lhe deu uma característica rústica, com nuances de irregularidades e cores únicas, e a incomparável luminosidade do final do dia, hora preferida por todos os fotógrafos, para tirar belas fotos. O resultado, pelo menos na minha modesta opinião, ficou muito interessante!
Neste blog, entretanto, obviamente a discussão não poderia ficar restrita aos aspectos estéticos da foto. 
Já em casa, melhorando os detalhes técnicos da fotografia, comecei a pensar sobre o sentido da existência dos muros. Fui remetido ao muro de Berlim, ao que separa Israel dos territórios ocupados (Cisjordânia e Faixa de Gaza), os tantos muros que cercam nossos condomínios, casas e prédios, muros que demarcam terrenos, muros que contem, excluem ou incluem, muros que simbolizam sectarização, intolerância, preconceito, desunião. Muros que trazem segurança, por excluir as ameaças, geralmente humanas.
Muros que delimitam propriedades, num planeta que deveria, utopicamente, ser de todos. Compra-se uma extensão de terra, como se pudéssemos ser donos de um pedaço do planeta, que precede nossa existência em bilhões de anos.
Por trás dos muros de Auschwitz, os judeus foram mantidos trancados, sob condições desumanas. Por dentro dos vergonhosos muros, os homens, mulheres e crianças foram torturados, humilhados e assassinados, sob o doentio argumento de "purificação" da raça ariana, mais um delírio do monstro que atendia por Hitler. Hoje, são os mesmos judeus em Israel que separam seu "povo escolhido" dos árabes palestinos, dos quais são historicamente primos, alegando questões de segurança (não totalmente sem sentido).
Os muros simbólicos separam também brancos de negros, hetero de homossexuais, pobres de ricos, ladrões de honestos...
O muro é uma instituição tipicamente humana. O muro é a cara do homem.
Encerra suas limitações, sua mediocridade, sua necessidade de domínio, sua intolerância. 
Mas pode, também, render belas fotos, como a que, modestamente, tirei.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

O TALENTO DE BARBRA STREISAND



Tenho alguns CDs que raramente saem de dentro do meu carro, lugar onde, por incrível que pareça, costumo ouvir muita música, nos deslocamentos na cidade, que está cada vez mais perturbada pelos engarrafamentos.
Um deles é o "The Broadway Album", que Barbra Streisand gravou nos anos oitenta, com alguns dos grandes momentos dos musicais da Broadway.
No auge de sua forma vocal, a cantora dá uma aula de performance, musicalidade, perfeccionismo e virtuosidade. O nosso grande músico César Camargo Mariano a considera um dos grandes gênios da arte de cantar, ao lado de nomes como Elis Regina e Ella Fitzgerald. Não há exagero: a voz de Barbra soa precisa e límpida como o mais precioso dos instrumentos musicais. Tem todas as nuances que se podem emprestar à voz humana. Transparece humor, ironia, sarcasmo, intenso amor, frieza, alternando momentos de intensa vibração com trinados suaves, quase sussurrados. Barbra é uma lição de música em forma de gente!
Esse CD serve sempre de fundo musical para minhas elocubrações mentais, especialmente acerca do sentido da arte, para a humanidade. Não sei se há um verdadeiro sentido na arte, mas sei que ela é imprescindível. Todos os seres humanos apreciam a arte, de alguma forma, embora apenas uma minoria tenha tido acesso a um padrão cultural mais sofisticado. 
É praticamente impossível que alguém ouça a voz de Barbra Streisand sem admirá-la, ainda que não tenha em si os necessários alicerces culturais para julgar detalhes acerca do ato de cantar. 
Por outro lado, o som da voz perfeita de Barbra me faz esquecer, ainda que nos vãos momentos em que a ouço, da barbárie sonora que invadiu o Brasil nos últimos anos, fruto de um processo complicado de aculturação a que fomos expostos no período pós-ditadura. Em adição, a redução da pobreza no país trouxe ao mercado consumidor de música uma grande fatia da população que ainda vibra nos acordes da submúsica, dos becos harmônicos, da lama melódica que domina grande parte da nossa produção.
Neste cenário, parece lógico que ouçamos "pérolas" de grupos como (desculpem a citação neste tópico) Calcinha Preta ou Limão com Mel, ao invés de ouvirmos clássicos, como Send In The Clowns ou I Loves You Porgy, por Barbra, no seu primoroso CD.
Lamentável. Cresce em mim, ao longo dos anos, a terrível sensação de impropriedade, de ter nascido numa época e/ou num lugar errados, a inabalável sensação de ser uma pessoa isolada em seu próprio universo paralelo. Não o considero melhor nem pior, mas, com certeza, é um universo paralelo. Diferente. Incompreendido.
Nesse ponto de ginástica mental, aumento o som, e deixo que a voz de Barbra lave, novamente, todos os porões e armários, inundando cada compartimento do meu cérebro com sua perfeição vocal.

terça-feira, 13 de julho de 2010

POR QUEM OS SINOS DOBRAM?

"Não pergunte por quem os sinos dobram, eles dobram por você" 
(Ernest Hemmigway).






Uma bela e anacrônica frase de um dos maiores escritores da história. Traz um sentido profundo, difícil de perceber à primeira leitura. Como todas as frases geniais.
Se pudéssemos introjetar tudo o que essa frase encerra, nossa existência seria mais plácida, menos tempestuosa. 
Na busca de sabermos por quem os sinos dobram, ou, metaforicamente, quais são os grandes referenciais de nossa vida, sejam amigos, pais, outros familiares, sucesso financeiro, ganhos sociais, passamos grande parte do tempo sem compreendermos que, verdadeiramente, temos de nos voltar para nosso interior.
Nosso melhor amigo, nosso porto-seguro, nosso amparo, nosso maior objetivo deve residir dentro de nós mesmos. 
Sofre-se por cada ausência, por cada partida, por cada decepção, por cada incompatibilidade. Sofre-se de desamor, um desamor cotidiano, tecido por contas de pequenas mortes diárias. Sofre-se por não encontrar, no espelho do outro, o que verdadeiramente nos sobra (ou falta).
Os sinos não dobram pelo amigo ou pelo outro que está ao nosso lado. Dobram por nós. Por cada lágrima derramada, por cada gesto nobre, pelas angústias de cada dia. Dobram pela certeza crescente e inevitável da falta de sentido implícito do existir. Eles dobram, sim, para que não percamos a sanidade, para que nos voltemos para o interior, para que o exterior não nos desfragmente, com suas agruras e desventuras.
Da próxima vez que o destino lhe for inclemente, avassalador, saiba que sinos (e sinas) batem (ou se desenvolvem) por você, desde que você se coloque como referencial. O poder transformador do observador, quanticamente, pode estabelecer novas e definitivas verdades, ainda que sob a transitoriedade de um mísero e insignificante segundo de lucidez. 

quinta-feira, 8 de julho de 2010

ACORDANDO BEM

Todos os dias agradeço aos criadores da internet, especialmente por amar música, e, hoje, poder ouvir as que eu quero! na rede mundial de computadores, você pode encontrar centenas de rádios online, catalogadas de acordo com sua preferência, sem comerciais, com som impecável! nada mal... durante minha adolescência, com meu gosto musical atípico, eu tinha de comprar discos e tentar captar o sinal de emissoras de FM no Recife (algumas eram especializadas em músicas de qualidade). 
Pois bem: hoje, como sempre faço, assim que acordei, vi o Bom Dia Brasil e fui trabalhar no computador, ao som de uma das emissoras de rádio que mais ouço (do grupo Globo, a emissora "Fama", que toca apenas standards da música internacional). E foi aí que eu vi que meu dia começaria muito bem: invadiu-me a alma a voz linda, doce, melancólica de Dinah Shore (foto abaixo) cantando My Funny Valentine. 
Impressionante como a voz dela é linda! fiquei pensando sobre o momento exato em que ela gravou a música, numa época tão diferente, onde o romantismo também era a tônica, inclusive na produção artística. Numa época onde o real talento era o que importava, pois os sofisticadíssimos programas de computação (que hoje me possibilitam ouvir as rádios online) corrigem imperfeições, inclusive notas desafinadas e acordes incorretos! em outras palavras, ou se cantava ou não... sem meio-termo. Logo depois (aí é covardia...), entra minha diva-maior, Ella Fitzgerald (foto abaixo), cantando My Romance.
Inevitavelmente, vem à minha mente a comparação com a versão de Carly Simon, que gravou a música anos após... em que pese a qualidade da voz de Carly, a diferença de personalidade vocal, nuances e dimensão rítmica é infinitamente favorável a Ella. Não poderia deixar de ser, em se tratando daquela que é considerada como uma das mais perfeitas vozes da história da música.
Sempre costumo dizer que nasci e vivo numa época e num país errados. Eu me vejo, nos sonhos utópicos, morando numa realidade imaginária, onde Ella e Dinah fariam concertos gratuitos em parques públicos, para multidões silenciosas e atentas, as quais se emocionariam com a expressão artística mais autêntica da voz. Vivo, utopicamente, numa ultra-realidade em que não há banalização do sexo, não há prostituição, uso do corpo como moeda de expressão "artística". Vivo num mundo em que não há o detestável forró eletrônico, a verbosidade das músicas sertanejas-românticas, o lixo explícito do funk carioca.
Após o breve sonho lindo, embalado pelas vozes dessas divas, é hora de "acordar", trocar de roupa e cair na vida. Essa é a real, fazer o quê?

quarta-feira, 7 de julho de 2010

REVENDO O PASSADO

Hoje (23/02/2008), fiz uma caminhada ecológica maior, pela primeira vez, sozinho. Estranho, para falar a verdade. Mas, ao mesmo tempo, a natureza oferece tanto, que inebria, e afasta os pensamentos tristes ou sombrios que me pudessem vir à mente. Além disto, os tantos amigos que sempre caminharam comigo vão estar sempre ao meu lado, de uma forma ou de outra, mesmo que em pensamento, em intenções, em boas lembranças. Parece que ouvia a voz de cada um, mostrando um detalhe, lembrando um fato, sorrindo, apontando árvores e paisagens diferentes.

É sempre incrível reler o que escrevemos no passado. Esse texto foi o primeiro que publiquei neste blog, há mais de dois anos. Eu estava passando por alguns dos piores dias da minha vida, após um terremoto emocional que se instalou, envolvendo o trincamento de alicerces complexos, especialmente relacionados ao que eu sempre entendi por amizade. 
Uma das coisas mais interessantes foi perceber que, mais uma vez, o contato com a natureza me salvou, me reestruturou, fez-me retomar minha caminhada, sem trocadilhos. Não foi por opção, mas, novamente, por um projeto catártico, que me levou a caminhar obstinadamente por trilhas já tão conhecidas, em que sorríamos, conversávamos, éramos como carne e unha.
Na foto abaixo, tirada exatamente nesta caminhada, percebo uma infinita tristeza no olhar, por trás de uma tentativa débil de manifesto de um sorriso, numa reação forçada. Talvez fosse já o começo da reação.
Eu precisava, de alguma forma, entender que havia coisas maiores do que a implosão dos valores emocionais, pela qual eu passava. E realmente entendi que a natureza é maior. Aliás, ela é maior do que tudo. Ela sempre esteve, está e estará, enquanto nós, coitados, estamos apenas de passagem. Nesse contexto, hoje eu não me preocupo muito com o que o ser humano está fazendo com a natureza, pois sei do seu caráter de autossustentabilidade, de autolimitação, de equilíbrio inexorável. Se o ser humano for um dia a fonte de um desequilíbrio insustentável, fatalmente será eliminado, de alguma forma.
Esse conceito de continuidade foi introjetado, ao caminhar sozinho. Não só eu, mas todos os amigos e ex-amigos, todos nós passaremos, de forma indelével, deixando algumas marcas para a humanidade, talvez mais, talvez menos importantes, mas nada que se compare à perenidade da natureza, do planeta, enquanto "organismo". 
Hoje, após dois anos de altos e baixos, tenho plena convicção de que as decepções continuarão acontecendo, assim como também sei que provocarei decepções em várias pessoas. É inerente à condição humana. A diferença está na forma como estou processando tais decepções. Este é o aprendizado que vem da natureza.

"Aprendi com a primavera; a deixar-me cortar e voltar sempre inteira."
(Cecília Meireles)

domingo, 4 de julho de 2010

FALANDO SOBRE A CEGUEIRA

Nos pedais, conversa-se de tudo um pouco. Desde a copa, até a situação da juventude atual, passando por muita abobrinha, momentos de pura filosofia, ciência, música... 
No último pedal, conversei bastante com meu novo (e ótimo) amigo Leo (foto abaixo), que é oftalmologista. Dentre os variadíssimos assuntos, um dos que abordamos foi a cegueira. Uma vez, perguntei a um amigo cego como eram os seus sonhos. Ele disse que não sonhava com imagens, e sim, com sensações. Táteis, auditivas, com sensações espaciais, particularmente. Enfim, ele disse que sonhava exatamente com os "instrumentos" de que dispõe para interpretar o mundo, na ausência da visão.
Leo dava as explicações oftalmológicas, enquanto eu, as neurológicas, tentando, ao unir conhecimentos, entender a complexidade do fenômeno visual, especialmente diante da ausência da visão.
O cérebro tem um inacreditável poder adaptativo. Na falta de uma função, ele hipertrofia outras. 
Uma das mais interessantes e complexas funções é justamente a propriocepção, tão hipertrofiada nos deficientes visuais. Trata-se de uma sensação interna de segmentação e organização corporal. É uma função que possibilita sentirmos nossa posição sobre o planeta, no sentido mais amplo da sensibilidade. 
A audição, também hipertrofiada nos cegos, torna-se um importante elemento de auxílio, tanto no desvio de obstáculos quanto no fenômeno proprioceptivo.
De acordo com Leo, o meu amigo, portador de glaucoma congênito, poderia ter sido operado, na infância, e possivelmente teria mantido sua visão, fato difícil de imaginar há mais de 65 anos, quanto ele nasceu!
Na postagem de hoje, quero registrar esse interessantíssimo papo que tivemos, assim como a chegada de mais um irmão-ciclista, fazendo parte de um seleto grupo de convivência que tenho, e que extrapola o limite dos "colegas ciclistas", que são a maioria: meu amigo Leo. Bem-vindo, amigo!

sexta-feira, 2 de julho de 2010

CATARSE

Catarse (do grego Κάθαρσις "kátharsis") é uma palavra utilizada em diversos contextos, como a tragédia, a medicina ou a psicanálise, que significa "purificação", "evacuação" ou "purgação". Segundo Aristóteles, a catarse refere-se à purificação das almas por meio de uma descarga emocional provocada por um drama.


Considero minhas atividades ciclísticas como um misto de prazer e catarse. Esta semana, fiz cinco pedais, levando ao extremo minhas condições físicas. Obviamente, um risco comedido, milimetricamente calculado. Afinal, não quero deixar de ser um ciclista aficcionado para virar um inválido ou, no mínimo, um acidentado!!
A catarse leva necessariamente a um processo de purificação, de renovação da química neuronal. Em mentes cujo predomínio é tempestuoso e em eterna metamorfose, como a minha, tal renovação é mais que desejável: é mandatária, imprescindível. As fartas doses de endorfina que me inundam as sinapses, após a atividade física, são capazes de trazer alento ao sistema límbico, tão envolto em processamentos complexos e, por vezes, pouquíssimos construtivos. Dessa forma, o sono vem mais fácil, assim como a dismnésia seletiva para fatos que prefiro esquecer.
O presente diário, dado pelo contato com a natureza, pelo papo saudável com os amigos, tornou-se um dos sentidos mais importantes da minha vida atual. Ousaria dizer que as atividades profissionais me possibilitam a subsistência, para que eu possa ter tais momentos de puro êxtase. Exagero? talvez. Mediocridade? pode até ser. Mas nada tem substituído a paz que me vem depois de tais momentos. Nada.
Obviamente, o contato com minha família é hors-concours. Nem entra em discussão, na lista de prioridades, pois minha família já é, por si só, prioridade máxima na minha vida. Falo dos fatos, pessoas, prazeres e desprazeres secundários, extrafamiliares. 
Sejamos, pois, catárticos, sejam quais forem os instrumentos utilizados. Afinal, elocubração em excesso só aumenta a produção de radicais livres, provoca rugas e traz uma pretensa (e falsa) sensação de estarmos "entendendo" o sentido da vida, já que ela, por si só, não tem nenhum. Temos de dar um sentido à nossa vida, todos os dias, assim que abrimos os olhos. Ainda que os abramos precocemente, em madrugadas frias e solitárias. Não importa. Mesmo assim, podemos colorir com um sentido o nosso dia.
Nessa aquarela mágica, fantástica, o ciclismo ocupa o papel de parede, onde posso desenhar ou pintar detalhes secundários.

terça-feira, 29 de junho de 2010

PEDALANDO NA LAMA

Hoje fizemos um pedal inacreditável, na lama... poucas vezes vi tanta lama como na trilha do escorpião! também, ontem choveu "apenas" o dia inteiro!!
Como sempre, fico pensando sobre o que nos motiva a encarar tamanho e tão sujo desafio, físico e psíquico. Aparte a questão de autossuperação, que sempre ponteia todos os desafios ciclísticos, acredito que tem um outro lado que pega forte: na trilha, todos nós, independentemente da idade, somos como crianças. Lá, não importa a posição social, cultural, financeira, política ou religiosa. O que se vê são adultos-crianças, lidando com problemas simples, basais, como troca de pneus furados ou conserto de corrente quebrada (como aconteceu hoje). É como se, por um instante único e mágico, pudéssemos voltar a um tempo "dos pardais", quando a inocência era nossa morada, e os amigos fossem companheiros de aventuras mágicas, construídas sobre alicerces pintados com tinta guache de aquarelas baratas, compradas na venda da esquina. A lama que entope nossas bicicletas e nos cobre pernas, braços, rosto e roupas, é, metaforicamente, a tinta que nos transporta aos desenhos infantis, às brincadeiras inocentes nos terrenos baldios da infância, procurando por grilos e pirilampos (sumiram esses bichinhos de luz???). Da minha infância e adolescência, ficaram tão poucas lembranças quanto fotos. Uma excessiva timidez, associada a um temperamento sempre muito sério, uma tendência a sempre aprofundar o que geralmente merecia um tratamento superficial, tudo me levou a ter uma infância e adolescência planas, sem grandes pinturas, como uma tela pálida. Faltaram-me tintas e disposição para pintá-las, como deveriam. Talvez, agora, aos 44 anos, essas tintas estejam reaparecendo, como mágica, na companhia de amigos já não tão jovens também, mas com um inquebrantável espírito de jovialidade. Juventude e jovialidade, afinal, são duas coisas completamente diferentes.
Após o pedal, lavo a bicicleta e a mim mesmo, como a tirar da nossa cobertura a lama de um passado por vezes tão obscuro, cheio de interrogações e lacunas, que deixo ao vento, para que possa virar poeira e nunca mais voltar.
Há quem pense que vejo no pedal apenas uma diversão torpe, uma válvula de escape, como tantos o fazem. Deixo que pensem, que sigam, que falem. Há muito, desisti de me fazer entender em toda a minha essência. Não que ela seja especial, mas, definitivamente, é diferente, confusa e complexa. Até para mim mesmo. A diferença é que eu TENHO de compreender tal essência, não tenho escolha. Quanto a muito outros, certamente preferirão pensar nos pedais como um exercício bom, para perda de calorias e jogar conversa fora. 
Tudo adequado, cada um por cada um.

terça-feira, 22 de junho de 2010

COISAS DA VIDA 2

O que fazer diante de pessoas que nos decepcionam?
Infelizmente, acontece todos os dias. Esta semana, fiquei pensando por um outro caminho: será que são sempre as pessoas que nos decepcionam, ou elas estão dando uma resposta às decepções que tiveram conosco?
Em outras palavras, quem se decepcionou com quem? tem como mensurar?
Nossa mente geralmente ególatra tende a lançar sempre as culpas sobre os outros. Afinal, se eu sou "infalível", sempre que alguém agir de modo inadequado para comigo, esta pessoa é que está errada. Contrariamente, tenho desenvolvido meu lado "anti-ególatra", de forma intensa e progressiva. 
Nos últimos dias, especialmente, tenho trabalhado esta outra forma de ver as pessoas. Acredito que não seja possível uma sequência tão grande de decepções, sem que haja um fator causal definido envolvido. E, o que é pior, este fator pode estar dentro de mim, no meu modo de agir e pensar.
Não sei se isso poderá me fazer crescer, de algum modo, ou se faz sentido, no plano evolucional. De qualquer forma, essa nova forma de ver as coisas pode trazer um pouco de alento, e retirar de ombros, por vezes "inocentes", o peso da culpa.
No mais, a chuva continua dando uma trégua, o que abre as possibilidades de pedalar, pedalar catarticamente, enquanto os vendavais perdem forças dentro de minha mente, enquanto pacientemente vou domando a fera emocional que me habita, enquanto os fantasmas, são calmamente encarcerados nos porões, de onde não devem sair... pelo menos, não de forma tão exasperada.
Vamos em frente!!!

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Hoje é sexta-feira. Dia de mais um arrasta-pé no Parque do Povo, nesse mês inteiro de São João. São Pedro não deu uma folga essa semana: choveu sem parar, praticamente todos os dias. Hoje, ainda está muito nublado, mas, pelo menos, a chuva deu uma pequena trégua, até agora...
Hoje é aniversário de Bruno, super amigo. Não sei o que vai rolar.
O CD "Natural" vai tomando corpo, aos poucos. Engraçado como é um ser autogerenciado, não adianta tentar forçar a barra. O compositor é responsável pelo ato da gênese, mas não tem comando algum sobre ela. Mais um grande paradoxo, difícil de entender, quase impossível de explicar. 
A temática está definida, assim como a foto da capa. O resto, ainda está em processo de uma gravidez lenta, paciente. 
Já posso adiantar que o trabalho tem uma cara menos melancólica, ainda que restos da explosão nuclear que me abateu há alguns anos ainda se façam sentir, em alguns fragmentos recém-colados.
Toda reconstituição implica em riscos, em paciência, em renovação. Estamos nessa!
Pacientemente. Aliás, a palavra que mais poderia definir minha caminhada sobre esse planeta é paciência. Em todos os sentidos que a palavra abrange.
Vamos caminhando, "a sessenta minutos por hora, sem pressa e sem demora".
Hoje, lembro de novos amigos que tem se aconchegado, como Leo, Bernardo e Gilberto. A "família" cresce e se diversifica, felizmente.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

CHAPADA DIAMANTINA (23/04/2010)

NESTE DIA, FOMOS CONHECER OUTRAS ATRAÇÕES DA CHAPADA, DE CARRO E A PÉ. PRIMEIRO, UMA CAMINHADA ATÉ UMA CACHOEIRA, COM DIREITO A UM ESCORREGADOR NATURAL. DEPOIS, SEGUIMOS DE CARRO ATÉ O MORRO PAI INÁCIO, ONDE SE TEM UMA DAS MAIS LINDAS VISTAS DA CHAPADA. DEPOIS, UMA VISITA AO LAGO AZUL, QUE RECEBE UM RAIO SOLAR NUMA HORA ESPECÍFICA (E DEIXA A ÁGUA AZULADA), E AO LAGO PRATINHA, INCRIVELMENTE AZUL, QUE INUNDA UMA GRUTA, QUE CONHECEMOS ATRAVÉS DE UM MERGULHO DE FLUTUAÇÃO. LÁ, ESCURIDÃO TOTAL, EXPERIÊNCIA INSÓLITA! DEPOIS, CONHECEMOS A GRUTA LAPA DOCE, QUASE 1 KM DE BELEZAS SUBTERRÂNEAS INACREDITÁVEIS, ONDE JÁ CORREU UM RIO HÁ MILHÕES DE ANOS ATRÁS. AS ESTALACTITES E ESTALAGMITES DOMINAM A GRUTA, AO LADO DE COLUNAS, CORTINAS E OUTRAS FORMAÇÕES. UMA PARADA NO MEIO DA GRUTA, COM LUZES APAGADAS E SOB A MAIS COMPLETA ESCURIDÃO, FEZ REPENSAR MUITAS COISAS DA VIDA, ESPECIALMENTE SOBRE O QUE É ESSENCIAL E SIMPLES. DE VOLTA À POUSADA ALTO DO CAJUEIRO, ENCERRAMOS NOSSA AVENTURA, REGRESSANDO PARA CAMPINA NO DIA SEGUINTE.

CHAPADA DIAMANTINA (22/04/2010)

SAÍMOS LOGO CEDO DO VALE DO CAPÃO, PARA UM DOS TRECHOS MAIS LINDOS E DIFÍCEIS DO PEDAL. PERCORRENDO QUASE 40 KM, ATRAVESSAMOS VALES E RACHOS, EM MEIO A TRECHOS DE MATA FECHADA E MONTANHAS, ESPECIALMENTE A MAIS FAMOSA, CHAMADA "MORRÃO". OS MORROS VÃO MUDANDO DE CORES E FORMATOS, À MEDIDA EM QUE AVANÇAMOS NO PEDAL. HÁ FLORES PERFEITAS, PARADA PARA UM REFRESCANTE BANHO, E, JÁ NA ÚLTIMA PARTE, A MAIS DIFÍCIL E DESAFIADORA TRILHA, COM MUITAS PEDRAS, DESNÍVEIS, MATA FECHADA, PASSAGENS ESTREITAS E PEDRAS SOLTAS. NO TRECHO FINAL, UM INCRÍVEL DOWNHILL ATÉ A CIDADE DE LENÇÓIS, ONDE FINALIZAMOS O PEDAL, SABOREANDO UMA DELICIOSA PIZZA CASEIRA NA POUSADA ALTO DO CAJUEIRO.

CHAPADA DIAMANTINA (21/04/2010)

ESTE DIA FOI DESTINADO A UMA CAMINHADA. SAÍMOS DA POUSADA CAPÃO DE CARRO, PERCORRENDO CERCA DE 6 KM, ATÉ O INÍCIO DA TRILHA QUE LEVARIA À CACHOEIRA DA FUMAÇA. NO INÍCIO DA TRILHA, UMA SUBIDA MUITO ÍNGREME DE CERCA DE 1 KM, QUE REQUER MUITA ENERGIA. DEPOIS, MAIS QUASE DUAS HORAS DE CAMINHADA, NO ALTO DO CHAPADÃO, NUMA PAISAGEM DE TIRAR O FÔLEGO. A VEGETAÇÃO É TÍPICA DA CHAPADA, SENDO MENOS EXUBERANTE DO QUE NO VALE DO CAPÃO, POR ESTAR EM ALTITUDES MAIORES (ACIMA DE 1.000 METROS). APÓS A CAMINHADA, CHEGAMOS À CACHOEIRA DA FUMAÇA. UM RIACHO DESPENCA SUBITAMENTE DE UMA ALTURA DE QUASE 400 METROS (TRATA-SE DA SEGUNDA CACHOEIRA MAIS ALTA DO BRASIL). ANTES DE CHEGAR AO SOLO, A ÁGUA SE TRANSFORMA EM VAPOR (JUSTIFICANDO O NOME DA CACHOEIRA). PARA AVISTÁ-LA, TIVEMOS DE DEITAR NUMA PEDRA, OLHANDO DIRETAMENTE O ABISMO. APÓS AS FOTOS E MUITA CONTEMPLAÇÃO, UMA PARADA NUM LAGO DE ÁGUA MUITO VERMELHA, PARA UM REFRESCANTE MERGULHO, E RETORNAMOS PARA A TRILHA, DESCENDO O CHAPADÃO, RETORNANDO PARA A POUSADA NO FINAL DA TARDE.

CHAPADA DIAMANTINA (20/04/2010)

DO POVOADO DE GUINÉ DE CIMA, SEGUIMOS POR UMA TRILHA INICIALMENTE ASCENDENTE, ATÉ UM ÁPICE, DE ONDE FIZEMOS UM DOWN HILL DE QUASE 11 KM, ACOMPANHANDO VALES E RIACHOS. NO FINAL, PARADA OBRIGATÓRIA PARA UM BANHO DE RIACHO. CONTINUANDO, ACOMPANHAMOS O TRAJETO DE UM RIO ATÉ UM PEQUENO RESTAURANTE, ONDE COMEÇARIA O PRÓXIMO DESAFIO: UMA SUBIDA INCLINADÍSSIMA DE QUASE 5 KM, SOB UM SOL INCLEMENTE. A PERSISTÊNCIA É RECOMPENSADA PELA CACHOEIRA (DO RIACHINHO), ONDE PARAMOS POR MAIS DE UMA HORA, PARA BANHO E FOTOS. DE LÁ, SEGUIMOS ATÉ A VILA DO CAPÃO, E, POR MAIS 3 KM, ATÉ A POUSADA DO CAPÃO, A MAIS LINDA DE TODAS. A VILA DO CAPÃO É CHEIA DE POUSADAS E ATIVIDADES ECOTURÍSTICAS, QUE ATRAI GENTE DE TODO O MUNDO. PREDOMINA O ESTILO HIPPIE DE SER, NAS ROUPAS E MODO DE VIVER. HÁ ESTRANGEIROS DE TODAS AS PARTES DO MUNDO, E UM CLIMA DE MUITA PAZ E INTEGRAÇÃO. DESTAQUE PARA A DELICIOSA PIZZA DE UM SUÍÇO QUE COMEMOS À NOITE. NA POUSADA, BANHO DE RIO, SINUCA (ALGUNS GOSTAM!!) E MUITO PAPO, ANTES DE MAIS UMA NOITE DE SONO REPARADOR

CHAPADA DIAMANTINA (19/04/2010)

A LINDA POUSADA EM IGATU COMPENSOU O ESFORÇO DA NOITE ANTERIOR. NA MANHÃ DO DIA 19, FIZEMOS UM PASSEIO POR IGATU, CIDADE QUE VIVEU SEU AUGE ENTRE 1870 E 1920, QUANDO O GARIMPO DE DIAMANTE ATRAIU RICOS E ESCRAVOS, FORMANDO UMA POPULAÇÃO DE 30 MIL HABITANTES. HOJE, OS POUCO MAIS DE 300 HABITANTES SOBREVIVEM DO TURISMO, NUMA CIDADE QUE PARECE ESQUECIDA NO TEMPO. A PARTE ANTIGA, TOMBADA PELO PATRIMÔNIO HISTÓRICO, CONSERVA RESTOS DE CASAS ANTIGAS E RUAS DE PEDRAS, ALÉM DE RUÍNAS DE CEMITÉRIOS, UM MUSEU DO GARIMPO E UMA IGREJA. PARECE UMA CIDADE-FANTASMA. LINDO E TRISTE, AO MESMO TEMPO. DE IGATU, SUBIMOS OUTRAS TRILHA INCLINADÍSSIMA (QUASE 4 KM), SEGUIDA POR UM TRECHO PLANO (TOTAL DE QUASE 10 KM), ATÉ TOMARMOS O ASFALTO QUE NOS LEVARIA À CIDADE DE MUCUGÊ. LÁ, ALMOÇAMOS, CONHECEMOS O CEMITÉRIO BIZANTINO (UM DOS POUCOS DA AMÉRICA NESSE ESTILO) E SEGUIMOS PELO ASFALTO, ENTRE AS MAJESTOSAS MONTANHAS DA CHAPADA, ATÉ O INÍCIO DA TRILHA, QUE LEVARIA AO POVOADO DE GUINÉ DE CIMA (CERCA DE 30 KM), ONDE PERNOITAMOS.

CHAPADA DIAMANTINA (18/04/2010)

NO PRIMEIRO DIA DE PEDAL, DEIXAMOS LENÇÓIS LOGO CEDO, TOMANDO A TRILHA DO GARIMPO, UM TRECHO BELÍSSIMO, QUE ATRAVESSA RIOS, RIACHOS, VALES E FLORESTAS PRATICAMENTE INTOCADAS. O MAIS MARCANTE É A COR DAS ÁGUAS, QUE SÃO AVERMELHADAS, NÃO POR SEREM POLUÍDAS, MAS POR CONTEREM SEDIMENTOS ORGÂNICOS E MINERAIS DA REGIÃO. INACREDITÁVEL. HÁ MUITA ÁGUA NA CHAPADA, BROTANDO DE TODAS AS PARTES. ESTE PRIMEIRO TRECHO DE QUASE 18 KM SEGUE ATÉ O ASFALTO, QUANDO TOMAMOS O RUMO DA CIDADE DE ANDARAÍ, CERCA DE 3 KM. LÁ, UMA RÁPIDA PARADA PARA UM SORVETE E RUMAMOS PARA A TEMIDA SUBIDA DE IGATU, UMA TRILHA CONSTRUÍDA POR ESCRAVOS, SENDO DE PEDRAS (MUITAS SOLTAS E IRREGULARES) E BURACOS. A SUBIDA É ÍNGREME E PARECE NÃO TER FIM (8 KM). DETALHE: QUASE A METADE FOI FEITA NO MAIS ABSOLUTO ESCURO! CHEGANDO EM IGATU, UM MERECIDO JANTAR E DESCANSO, PARA O PRÓXIMO DIA.

CHAPADA DIAMANTINA (18/04/2010)

NOSSA AVENTURA COMEÇOU EM CAMPINA GRANDE, NUMA MANHÃ FRIA DE SÁBADO. SAÍMOS PERTO DAS CINCO HORAS DA MADRUGADA, RUMO A LENÇÓIS, NO CORAÇÃO DA BAHIA. ATRAVESSAMOS OS ESTADOS DE PERNAMBUCO E ALAGOAS, PASSANDO POR CARUARU, GARANHUNS, PAULO AFONSO, JEREMOABO E FEIRA DE SANTANA, NUM PERCURSO DE MAIS DE MIL QUILÔMETROS. NA DIVISA ENTRE ALAGOAS E BAHIA, O MAJESTOSO RIO SÃO FRANCISCO, QUE FORMA UM GIGANTESCO CANION APÓS A ENORME CACHOEIRA, QUE GERA ENERGIA ELÉTRICA PARA TODO O NORDESTE. O TRAJETO É VARIADO, COM TRECHOS MONTANHOSOS, OUTROS PLANOS, POR VEZES LEMBRA O CERRADO, OUTRAS VEZES, O SERTÃO PARAIBANO. TUDO MUITO VERDE E POUQUÍSSIMO HABITADO. JÁ PRÓXIMO À CHAPADA DIAMANTINA, NOTA-SE UMA ENORME ELEVAÇÃO DO TERRENO (UMA SUBIDA DE MAIS DE UMA HORA DE DURAÇÃO). A VEGETAÇÃO TORNA-SE EXUBERANTE, O CLIMA AGRADABILÍSSIMO, E COMEÇA A GRANDE AVENTURA NA HISTÓRICA CIDADE DE LENÇÓIS, CONSIDERADA COMO A PORTA DE ENTRADA DA CHAPADA DIAMANTINA.

COISAS DA VIDA

Realmente, torna-se cada vez mais rara a minha presença nesse blog. Sei lá... talvez porque, no fundo, eu perceba a inutilidade de escrever coisas, que talvez nem sejam lidas. Escrever, como quem areja os próprios porões, talvez. Mas, nesse caso, bastaria ter um amigo, uma taça de vinho e uma noite de disponibilidade. Aí é que mora o problema. Em tempos "modernos", amigos disponíveis estão cada vez mais indisponíveis!!
E a gente começa a entrar no perigosíssimo campo das amizades virtuais, de passar horas e horas no computador, escrevendo para ninguém, fazendo de conta que nossa rede virtual tem o calor humano do qual tanto precisamos. De qualquer forma, vez por outra, vale à pena dar uma chegada por aqui. Ainda que para termos a sensação de vida, mesmo que virtual.
Os anos tem se sucedido, como as primaveras. A gente recebe facas, cortes, e se deixa renascer, ainda que não sem sequelas (agora sem trema!). Nesse chuvoso inverno campinense, amplia-se em mim a sensação de perplexidade diante das relações humanas. A teoria Dawininana do gene egoísta há muito dominou minha ideia (agora sem acento!) sobre o "sentido" da vida. Por uma questão de conforto, ou simplesmente por falta de melhores opções, tenho pensado nesses termos, com absoluta convicção. 
Um novo trabalho musical começa lentamente a tomar forma. Como sempre, sei que deixarei como semente, a qual talvez sequer venha a germinar. Mas faz parte daquilo que estabeleci como prioridade, como um dos "sentidos" que tento dar à minha existência. Assim como pedalar, comprar um carro novo (finalmente!) ou tentar cultivar as (complicadíssimas) amizades.
Vamos indo, meio às cegas, no susto, como quem se debate na correnteza. Até mais!

domingo, 25 de abril de 2010

Voltando ao blog

Caramba, como faz tempo que não posto nada por aqui!! de repente, a volta pode ser realmente fantástica, pois pretendo escrever um relato sobre a recente viagem à Chapada Diamantina. Vamos ver se a energia ainda dá para isso!!