segunda-feira, 2 de novembro de 2015

A MORTE DE MAIS UMA ÁRVORE.



INDIGNAÇÃO.

Todos os dias, ao sair de meu apartamento para tomar o elevador, eu olhava para ela. Majestosa, soberana. Cerca de dez metros de altura, linda, saudável, generosa. Abrigava uma enorme quantidade de pássaros. Ajudava a manter a umidade e a saúde do terreno onde estava plantada, provavelmente há muitas décadas. De dia, absorvia sua cota de luz solar e liberava oxigênio e vapor d'água, elementos fundamentais para a sobrevivência dos seres vivos. À noite, silenciosamente, nutria-se de forma autônoma, mantendo o equilíbrio homeostático do solo. Todo o terreno em torno da árvore era beneficiado. Plantas pequenas e médias conviviam em harmonia, aproveitando-se inclusive de sua sombra generosa e possibilidade simbiótica.
Hoje, repetindo o gesto de oito anos, tive o profundo choque de ver a árvore destruída, pelo tronco. Não foi podada, foi eliminada, assassinada. Dentro de um terreno urbano. Não há, até onde eu saiba, planos de construção. Parece ter-se tratado de algum incomodado com "folhas que caem", "pássaros que cantam logo cedo" ou com a simples visão de beleza e harmonia que a árvore emprestava ao terrivelmente urbanizado bairro do Catolé, um dos menos arborizados da cidade. Sim, o terreno é particular. Infelizmente, o dinheiro compra o poder de decisão sobre a morte de um ser vivo, indefeso, inofensivo. Para a tristeza e desespero dos poucos pensantes do planeta, a morte dessa árvore é mais um pequeno passo rumo ao desequilíbrio do ecossistema terrestre, que já parece tomar ares irreversíveis. Parece-me, entretanto, que o final trará uma reviravolta: espero que o planeta, incomodado com esse vírus peçonhento e agressivo chamado "ser humano", desista de seus sinais parcimoniosos e faça o que tem de ser feito: elimine rapidamente a espécie, dando lugar a outro tipo de vida. Uma vida digna, respeitosa, construtivista, harmoniosa, ética. Nada que se aplique à patética figura dos seres humanos.
Fábio Dantas.

Um comentário:

Unknown disse...

Professor que texto lindo e que realidade horrível. Sem mais, apenas devo dizer que concordo completamente com suas palavras, em especial as que encerram o texto.