sábado, 23 de março de 2013

QUATRO MESES SEM O CICLISMO.




Não sou místico, mas, desde o início de 2013, senti que meu ano seria meio problemático. Talvez por ter captado maus sinais, desde o início, especialmente turbulências envolvendo amigos próximos. Coisas que eles talvez nem tenham percebido ou valorizado. Coisas de uma cabeça que, infelizmente, pensa e detecta excessivamente pequenas variações de comportamento e humor. Coisas de um eterno desadaptado, bem sei eu.

Isso tudo introduz o motivo de minha postagem de hoje.

Há cerca de cinco anos, venho praticando regularmente o ciclismo. Especialmente a modalidade mountain bike, que me permite um contato direto com a natureza.

Atingi um grau de tamanha dependência (benigna, eu creio) do esporte, que sempre me dizia ser uma das principais atividades de minha vida. Quando não estava trabalhando, estudando ou me dedicando à família, nada me trazia maior ou melhor prazer. Absolutamente nada.

Sempre me dizia que, se algo me tomasse a chance de praticar meus pedais, eu realmente não sei como conseguiria manter o meu frágil equilíbrio emocional.

Pois, eis que, num lampejo irônico e cruel do destino, há cerca de um mês, estou afastado do meu esporte. Após uma queda, seguida por lesão da mão direita, estou em recuperação, com a perspectiva de uma cirurgia para reconstrução do ligamento ulnar do polegar direito. O período de recuperação pós-operatória inclui aproximadamente DOIS MESES sem pedalar. 

O que significa, que, na melhor das hipóteses, se voltar após esse período, terei passado quase QUATRO MESES longe de minha bicicleta.

Não acredito na visão tradicional de um Deus que acompanha individualmente cada existência. Além de ser extremamente antropocêntrica, tal visão levaria à visão de um Deus  que, ao invés de cuidar da dinâmica de todo um cosmos, de toda uma estrutura que, acredito, ele organizou e conduz, ficaria me "castigando" ou "ensinando coisinhas", para melhorar meu caráter. Isso seria ridículo.

Acredito, sim, na lei do retorno. 

As piores coisas que nos acontecem podem retornar em benefícios. Não por esoterismo, mas por uma lei quase física. 

Concretizando o exemplo, ao chegarmos no fundo de um buraco, percebemos que não há mais como afundar. E daí, sobram duas certezas melhores: não mais cairemos, e podemos começar a subir.

É por aí. O ensinamento vêm da própria pancada, e não de fenômenos esotéricos, sobrenaturais ou divinos.

Percebi que posso, sim, viver sem pedalar, como o fiz durante quase toda a minha vida, embora tenha de haver uma readaptação.

Momentos difíceis, como este, realçam a presença dos verdadeiros amigos que, como uma transversal do tempo, cruzam nossa vida e nela permanecem, a despeito das vicissitudes que se nos apresentam.

E há, claro, nossa família. Intransitivamente. Talvez por um incrível artifício do gene egoísta, o núcleo familiar jamais nos abandona. Pelo contrário. Os laços se fortalecem ainda mais, em momentos de crise. Percebi isso, como nunca, nos últimos anos de minha vida.

Farei uma cirurgia na mão, próxima semana, para iniciar um longo período de recuperação, que me possibilitará, espero, voltar aos pedais.

Mas será que ainda desejarei, como antes, estar nesse universo?

Parafraseando Dolores Duran, será que ainda "terei toda a ternura que quero lhe dar"?

Pedindo desculpas pela prosopopeia, vou tentar dar essa ternura novamente à minha bike!

Mas, como as coisas mudam, a visão muda, as perspectivas de vida mudam, tudo muda, isso também funcionará sob uma nova perspectiva.

Não sei se será melhor ou pior, mas, com certeza, diferente.

Abrir-se-ão portas de retorno para minha criação musical e literária? começo a crer que sim.

E meus grandes e reais amigos, e minha família? bom, essa é o princípio, o meio e o fim. 

Nada mudou e jamais mudará, exceto para melhor.


Um comentário:

Anônimo disse...

Feliz recuperação!
Espero que possas acreditar um dia talvez, ou simplesmente ignore esse comentário simplesmente anônimo, mas pra mim não é apenas necessário eu saber e crer em um Deus que cuida da sua criação (Eu), como tbm é fundamental para minha existência e equilibrio em todas as áreas da minha vida. Para mim seria impossível acreditar que tudo só acontece, pra mim é melhor perceber que tudo pode acontecer, mas para mim é melhor saber que não importa a hora ou lugar, terei um Deus que zela por mim, não importante meu estado emocional, físico ou até mental.
Para mim existir, significa todos os dias Acreditar!!