segunda-feira, 25 de março de 2013

RECONSTITUINDO, MAIS QUE A MÃO.




Amanhã, vou a João Pessoa, refazer um pedacinho de mim, que está faltando. Um pequeno ligamento no polegar, rompido numa queda banal. Amanhã, por ironia do destino, completam-se exatamente trinta dias do acidente. No momento em que eu poderia estar voltando às atividades normais, inclusive aos pedais, vou iniciar tudo do zero, com um procedimento cirúrgico na mão direita, com todas as implicações envolvidas. Após a cirurgia, serão mais dois meses de recuperação, creio eu, ainda sem pedalar. Para um ciclista, isso não é apenas um afastamento de um esporte. Trata-se de uma provação, verdadeiramente. Especialmente para quem, como eu, não conseguia se imaginar longe das trilhas, dos amigos, da natureza e das magrelas, que adormecem hoje, num cantinho do meu prédio. 

Há um mês, venho numa espécie de limbo, compasso de espera, um período estranho. Já tive a fase de revolta, arrependimento, auto-punição, pena de mim mesmo... já pensei em nunca mais pedalar, vender as bicicletas... enfim, tudo o que um pós-acidentado passa. Já sofri muito pelo fato de o destino ter me obrigado a me socorrer sozinho, do momento da queda à entrada no hospital. Já me perguntei e já me respondi sobre falhas minhas e de outras pessoas, já moí e remoí esse assunto internamente. Mas agora, chega. Fica tudo no passado. Daqui a exatamente 24 horas, estarei, provavelmente, saindo do centro cirúrgico, com meu ligamento reconstruído. Um pedacinho de corpo, simbolizando a reconstituição de uma grande quebra de estrutura. 

Escrevo hoje EXCLUSIVAMENTE para quem tem profundidade para compreender o significado, pois sei que grande parte das pessoas encara tudo isso como um melodrama pequeno, um exagero. Não é para estas pessoas que escrevo hoje. 

Pois, como já comentei antes, não nasci para a superficialidade. Não consigo ser "mais ou menos". Talvez, esse seja o meu maior sofrimento, durante os anos que habitar este planeta. 

A exigência cotidiana é para que se pratique o "mais ou menos". Não se mostre muito em público... não se exponha muito... não se aproxime muito das pessoas... não espere nada de ninguém... não cobre carinho ou atenção de ninguém... são tantos "nãos", para quem tem uma sede tão intensa de "sim". Para quem quis, desde sempre, apenas ser aceito, em suas diferenças. Para quem quis, desde sempre, exercer a profundidade do sentimento, como parte de uma profundidade de alma, que não desejei ter. Apenas recebi, mais como fardo do que como presente do cosmos.

Hei de viver até o último dia de minha vida exercendo a profundidade dos sentimentos. A vida tem me ensinado a me afastar sutilmente dos que não compreendem ou não são recíprocos. Muito contra minha vontade, continuo convivendo "socialmente" com muitas pessoas, satisfazendo uma fagulha intensa que clama pela socialização, como parte das teias complexas, exigidas pelo gene egoísta que nos habita.

Reconstituindo minha mão, espero poder reconstituir aspectos importantes de minha vida, por enquanto em compasso de espera. Não tem sido nada fácil, mas a presença de minha família linda e de alguns amigos (eles se sabem!) tem sido fundamental. Não pretendo citar nomes, até porque o sentimento é maior do que qualquer limite gramatical.

3 comentários:

Laise Guedes disse...

Belas palavras, compartilho com seu drama,na certeza de que tudo será superado e esses ¨Tempos Difíceis¨ irão passar rapidamente e logo tudo será resolvido.
Sucesso em seu procedimento cirúrgico e muita saúde para os próximos pedais.

Raquel Dantas disse...

Oi Binho, que susto ao me deparar com esta notícia! Que fase meu querido.....merece uma reflexão e quietude! Lamento esta limitação temporária que vc terá nesta fase do pós-operatório. Suas mãos preciosas irão silenciar temporariamente o piano e este silêncio irá ecoar em todos nós! Exercite a paciência e perceba os sinais que estão a nossa volta, nada é por acaso e tudo tem uma razão de ser.....No final tudo dará certo, boa sorte ! Te ligo depois. Amamos vc! Bj

Arthur disse...

tio, tudo vai correr bem e, mais rapido do que voce imagina, as trilhas, a natureza e as magrelas vão voltar.
desejo profundamente que tudo volte ao normal :}
teamo