sábado, 10 de setembro de 2011

MAIS UM MOMENTO DE BRUTALIDADE DA VIDA


Essa foto inacreditável foi feita na Camboja, recentemente. Essa criança, de um ano e oito meses de idade, aprendeu a mamar diretamente do peito da vaca, observando os ensinamentos do seu "irmão", um bezerro gordo e saudável. A mãe adotiva olha para sua nova cria, com uma expressão quase carinhosa. Como retribuição, a criança abraça a perna da vaca, que poderia, facilmente, matá-la com um simples e rápido golpe de cabeça.


Os pais biológicos estão desempregados, não têm como sustentar a própria existência, muito menos a dos filhos. 


Impressionante como a vida é bruta. Não existe um só sinal de condolência, no frio passar dos anos e do tempo. Tudo segue, inexoravelmente, como se nada fosse realmente importante ou digno de um destaque especial.


Nesse contexto, vivemos, na melhor das hipóteses, sete ou oito décadas de peleja, batalhando pela sobrevivência. Uns mais, outros menos, mas todos se expõem diariamente à barbárie da vida. À sua brutalidade. À sua injustiça.


No fluir do dia, raramente temos tempo sequer para observar tantos casos semelhantes, inclusive nos sinais de trânsito da cidade. São pessoas que vivem na marginalidade, comendo restos de lixo, matando por um celular (que valerá, talvez, o preço de uma pequena pedra de crack), morrendo por doenças típicas da fome e da miséria (como desnutrição, diarreia e cólera) e vendendo o único bem realmente precioso que temos (o nosso corpo).


A cena do bebê mamando na vaca poderia ser engraçada, se não fosse resultante do martírio da fome, a maior tragédia biológica que um ser pode enfrentar. Além da fome alimentar, a foto desnuda uma fome de carinho, de sentidos, de significados. Que tipo de organização social é essa, em que uma vaca tem de assumir a maternidade de uma criança, no sentido de amamentá-la? uma organização em que os políticos roubam descaradamente, em que se usa a religião para drenar centenas de milhões de dólares aos cofres dos pastores, em que se usa a ingenuidade dos mais pobres e humildes para construir simbólica e literalmente suas sepulturas?


Como sei que não há limites para a tragédia humana, penso que outras cenas semelhantes (ou piores) poderão aparecer nos nossos mundos real e virtual. Quem sabe crianças comendo ratos, ou experimentando restos de animais mortos. A ingestão de pequenos roedores e de plantas atípicas (como cactos e palmas) sempre foi uma realidade no nordeste do Brasil, por exemplo. A crueldade dos políticos sempre foi infinitamente pior do que os meses de seca na região, que poderiam facilmente ser enfrentados, especialmente quando nos lembramos de Israel ou do estado norte-americano da Califórnia (infinitamente mais castigados pela seca, mas com projetos políticos decentes, que transformaram essas regiões em potências sociais e econômicas).


Acordem, políticos corruptos desgraçados!!


Acorde, querido leitor.


Não pergunte por quem os sinos dobram... eles dobram por você. Por nós.


Pela criança, e pela vaca.


Até mesmo pelos políticos.


Pois todos serão pó de estrelas, exatamente como no início de tudo.


O que estamos fazendo de concreto, para deixarmos um mínimo traço de decência, justiça e desenvolvimento sobre esse planeta? o que temos feito é o bastante? 


Olhem a foto e decidam.

4 comentários:

geografisk disse...

A cena retratada é lamentável, pois retrata bem as contradições do mundo conteporâneo. Mas tudo isso é consequência da ingerência do ser humano com o próprio ser humano. O Camboja sempre foi um trajédia em termos econômicos e principalmente sociais, com socialismo e pior ainda com capitalismo. Acredito que isso não mude tão cedo, pois corrupção é sinõnimo, infelizmente, de ser humano.

geografisk disse...

A cena retratada é lamentável, pois retrata bem as contradições do mundo conteporâneo. Mas tudo isso é consequência da ingerência do ser humano com o próprio ser humano. O Camboja sempre foi um trajédia em termos econômicos e principalmente sociais, com socialismo e pior ainda com capitalismo. Acredito que isso não mude tão cedo, pois corrupção é sinõnimo, infelizmente, de ser humano.

Unknown disse...

Muito bem colocado, amigo. Análise precisa sobre um problema secular. Abração!

Clarissa disse...

eu vi isso.. mto peso.. ow humanidade miserável.