domingo, 4 de julho de 2010

FALANDO SOBRE A CEGUEIRA

Nos pedais, conversa-se de tudo um pouco. Desde a copa, até a situação da juventude atual, passando por muita abobrinha, momentos de pura filosofia, ciência, música... 
No último pedal, conversei bastante com meu novo (e ótimo) amigo Leo (foto abaixo), que é oftalmologista. Dentre os variadíssimos assuntos, um dos que abordamos foi a cegueira. Uma vez, perguntei a um amigo cego como eram os seus sonhos. Ele disse que não sonhava com imagens, e sim, com sensações. Táteis, auditivas, com sensações espaciais, particularmente. Enfim, ele disse que sonhava exatamente com os "instrumentos" de que dispõe para interpretar o mundo, na ausência da visão.
Leo dava as explicações oftalmológicas, enquanto eu, as neurológicas, tentando, ao unir conhecimentos, entender a complexidade do fenômeno visual, especialmente diante da ausência da visão.
O cérebro tem um inacreditável poder adaptativo. Na falta de uma função, ele hipertrofia outras. 
Uma das mais interessantes e complexas funções é justamente a propriocepção, tão hipertrofiada nos deficientes visuais. Trata-se de uma sensação interna de segmentação e organização corporal. É uma função que possibilita sentirmos nossa posição sobre o planeta, no sentido mais amplo da sensibilidade. 
A audição, também hipertrofiada nos cegos, torna-se um importante elemento de auxílio, tanto no desvio de obstáculos quanto no fenômeno proprioceptivo.
De acordo com Leo, o meu amigo, portador de glaucoma congênito, poderia ter sido operado, na infância, e possivelmente teria mantido sua visão, fato difícil de imaginar há mais de 65 anos, quanto ele nasceu!
Na postagem de hoje, quero registrar esse interessantíssimo papo que tivemos, assim como a chegada de mais um irmão-ciclista, fazendo parte de um seleto grupo de convivência que tenho, e que extrapola o limite dos "colegas ciclistas", que são a maioria: meu amigo Leo. Bem-vindo, amigo!

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