quinta-feira, 15 de julho de 2010

O TALENTO DE BARBRA STREISAND



Tenho alguns CDs que raramente saem de dentro do meu carro, lugar onde, por incrível que pareça, costumo ouvir muita música, nos deslocamentos na cidade, que está cada vez mais perturbada pelos engarrafamentos.
Um deles é o "The Broadway Album", que Barbra Streisand gravou nos anos oitenta, com alguns dos grandes momentos dos musicais da Broadway.
No auge de sua forma vocal, a cantora dá uma aula de performance, musicalidade, perfeccionismo e virtuosidade. O nosso grande músico César Camargo Mariano a considera um dos grandes gênios da arte de cantar, ao lado de nomes como Elis Regina e Ella Fitzgerald. Não há exagero: a voz de Barbra soa precisa e límpida como o mais precioso dos instrumentos musicais. Tem todas as nuances que se podem emprestar à voz humana. Transparece humor, ironia, sarcasmo, intenso amor, frieza, alternando momentos de intensa vibração com trinados suaves, quase sussurrados. Barbra é uma lição de música em forma de gente!
Esse CD serve sempre de fundo musical para minhas elocubrações mentais, especialmente acerca do sentido da arte, para a humanidade. Não sei se há um verdadeiro sentido na arte, mas sei que ela é imprescindível. Todos os seres humanos apreciam a arte, de alguma forma, embora apenas uma minoria tenha tido acesso a um padrão cultural mais sofisticado. 
É praticamente impossível que alguém ouça a voz de Barbra Streisand sem admirá-la, ainda que não tenha em si os necessários alicerces culturais para julgar detalhes acerca do ato de cantar. 
Por outro lado, o som da voz perfeita de Barbra me faz esquecer, ainda que nos vãos momentos em que a ouço, da barbárie sonora que invadiu o Brasil nos últimos anos, fruto de um processo complicado de aculturação a que fomos expostos no período pós-ditadura. Em adição, a redução da pobreza no país trouxe ao mercado consumidor de música uma grande fatia da população que ainda vibra nos acordes da submúsica, dos becos harmônicos, da lama melódica que domina grande parte da nossa produção.
Neste cenário, parece lógico que ouçamos "pérolas" de grupos como (desculpem a citação neste tópico) Calcinha Preta ou Limão com Mel, ao invés de ouvirmos clássicos, como Send In The Clowns ou I Loves You Porgy, por Barbra, no seu primoroso CD.
Lamentável. Cresce em mim, ao longo dos anos, a terrível sensação de impropriedade, de ter nascido numa época e/ou num lugar errados, a inabalável sensação de ser uma pessoa isolada em seu próprio universo paralelo. Não o considero melhor nem pior, mas, com certeza, é um universo paralelo. Diferente. Incompreendido.
Nesse ponto de ginástica mental, aumento o som, e deixo que a voz de Barbra lave, novamente, todos os porões e armários, inundando cada compartimento do meu cérebro com sua perfeição vocal.

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